Kokichi Muta: Uma existência negada

A introdução do Muta acontece no arco do intercâmbio, em uma luta contra o Panda. Em um primeiro momento, o Panda tenta uma aproximação amigável com ele, achando que os dois eram corpos amaldiçoados, mas ele então trata o Panda com hostilidade. Nesse momento, também é mostrado pela primeira vez o estado do corpo verdadeiro de quem todos conheciam como Mechamaru.

O Muta então explica para o Panda que não é um corpo amaldiçoado, mas sim um feiticeiro que controla corpos amaldiçoados à distância. Ele revela que consegue fazer isso porque nasceu com uma restrição congênita imposta ao corpo dele desde que nasceu. Em troca de um corpo extremamente frágil e dolorido, ele consegue usar mais energia amaldiçoada do que normalmente poderia, além de aumentar o alcance de seus feitiços.

Durante a primeira interação com o Panda, o Muta demonstra hostilidade a ele e o trata como inferior, chamando-o de projeto de boneco. O personagem é inicialmente assim porque tem muito rancor de ter nascido com o corpo que só o faz sofrer, e projeta esse sentimento no panda, que é de certa forma uma vida artificial mas tem um corpo saudável.

Não é justo um ser humano ter nascido com aquela restrição dolorosa e ter que viver por meio de um corpo amaldiçoado, enquanto o Panda foi uma criação do Yaga e vive bem junto dos humanos. É insuportável para ele presenciar o panda vivendo livremente como um humano.

Após o Muta perder a luta, o Panda diz que o motivo de sua derrota foi ter subestimado um boneco. O panda mesmo não se considera um ser humano, e diz que nunca foi igual às outras pessoas ao redor dele. Ele achava que os dois poderiam se entender porque nenhum deles era um ser humano normal, os dois eram vistos como algo diferente. O panda diz que não tem inveja dos humanos (ao contrário do Muta) porque ele acha horrível e estranho eles viverem arriscando suas vidas por objetivos, mas ele gosta que os humanos tenham essas qualidades que ele não tem.

O panda aceita ser como nasceu e gosta disso, enquanto o Muta rejeita a si mesmo intensamente desde que nasceu. Ele se odeia por ter nascido assim e acha que não tem o direito de ser feliz, e tb acha que ninguém aceitaria ele de verdade.

Fora dos capítulos, também há duas informações que reforçam que o Muta se rejeita:

1 - Ele escolheu o nome Mechamaru porque era o nome de um avião que ele viu em um anime e achou legal. Com isso, ele conseguiu apagar o seu próprio nome e sua identidade e substituí-los pela imagem de algo que ele gosta, mesmo que não seja quem ele realmente é.

2 - Ele pediu para informarem aos pais dele que ele já havia morrido há muito tempo. Ele se achava um fardo e uma falha tão grandes que preferiu que os pais dele pensassem que ele estava morto em vez de pensarem que o filho continuava vivo naquelas condições de sofrimento.

Com tudo isso, o Kokichi Muta já havia se enterrado e se escondia na imagem do Mechamaru.

Depois da conversa com o Panda, ele percebe que ainda assim tinha um desejo, um motivo para continuar vivo. Ele gostaria de um dia estar pessoalmente junto de todos os seus colegas, sem ser tratado de forma diferente pelas suas condições e aparência.

No começo do arco de Shibuya, é revelado que o Mechamaru era o traidor e estava cooperando e passando informações para o Kenjaku em troca de ter seu corpo curado pelo Mahito. Ao se encontrarem, o Kokichi já demonstra indignação pelo perigo que seus colegas passaram ao lutarem com a Hanami no intercâmbio, mas logo o pacto é cumprido e ele é curado.

Logo após ser curado e conseguir o que ele sempre quis, ele nem expressa felicidade e entusiasmo porque percebe (ou já havia percebido com o panda) que aquilo não era o que ele queria de verdade. Ter um corpo normal era apenas um meio de conseguir ser amigo dos outros, que era seu real objetivo. Por isso, a primeira coisa que ele faz é lutar contra o Mahito para tentar ajudar seus amigos.

Ele logo vai para o ultimate mechamaru para lutar, e seu plano era conseguir se comunicar com o Gojo ou com a Miwa para avisar sobre os planos de Shibuya e ser resgatado se possível. Ele também pensa que pode vencer porque esteve o tempo todo observando os colegas, e se lembra da pessoa que ele ama.

Interessante notar que a energia guardada que ele usa no robô é fruto de todos esses anos que ele passou sofrendo com aquela restrição congênita. Ele não vai hesitar em usar todo o sofrimento que passou por 17 anos se for para proteger seus amigos.

Durante a luta, ele inclusive usa o domínio simples que aprendeu ao ver a Miwa para se proteger da ED do Mahito.

No entanto, Mahito venceu.

No momento de sua morte, Miwa estava conversando com o Mechamaru que ficou no colégio jujutsu e dizia que gostaria de se aproximar dele.

Ela diz que os alunos de kyoto agora estão mais próximos, mas os feiticeiros jujutsu geralmente mantêm uma distância entre si porque, quanto mais próximo de alguém, maior é a dor de uma eventual perda…

No fim, eles não conseguiram se encontrar pessoalmente.

No arco de Shibuya, ele usou mini mechamarus com sua energia amaldiçoada, que tinha preparado previamente, para avisar seus colegas e ajudá-los a sobreviver. Ele também tinha mudado as agendas para mandar os colegas que não eram muito fortes para missões longe de Shibuya no dia que seria o incidente, para protegê-los.

Já ao final do incidente, quando ele foi despedir da Miwa porque sua energia estava acabando, ela se sente culpada por ter sido inútil em Shibuya e pergunta se o Mechamaru fez isso porque eles eram fracos.

Na verdade, quem foi fraco foi o Mechamaru. Ele cometeu o erro de colaborar com os vilões em troca do corpo dele, o problema real nunca foi o corpo dele. Ele amava a Miwa, e nada mais importaria se ele estivesse junto protegendo ela, mesmo que ela não gostasse dele e não quisesse que fosse ele quem a protegesse.

Mechamaru então se despede desejando apenas que Miwa encontre a felicidade. Se ela for feliz, independente de como, o desejo do Kokichi vai ter se realizado.

O que o Kokichi realmente queria sempre foi proteger seus colegas, especialmente a mulher que ele amava. No entanto, ele mesmo acabou se negando e achou que a única forma de ser aceito (e se aceitar) e conviver com os colegas seria com um corpo normal, o que acabou causando sua morte.

Se ele mesmo tivesse se aceitado, ele poderia ter vivido a vida que ele queria. O corpo saudável era apenas o que ele achava ser o único meio de conseguir alcançar o seu objetivo, não o objetivo.

A única pessoa que não aceitaria (aceitava) o Kokichi como ele era de verdade era ele mesmo. A Miwa e os outros colegas teriam gostado que ele convivesse com eles mesmo com aquele corpo. Isso não importa.

Um personagem com condições tão específicas até para seu próprio universo fictício na verdade passa uma mensagem muito realista para todos nós: Julgue-se menos, menospreze-se menos, aceite-se como você é. Não tenha medo de buscar a sua felicidade com receio do que os outros vão pensar, você não é essa imagem depreciada que criou de si mesmo.

Agora, algumas Curiosidades sobre o personagem:

• O nome dele significa "proporcionar muita felicidade". É uma ótima descrição do fim do personagem.

• É difícil saber se a Miwa chegou a perceber que ele amava ela.

• Os mini mechamarus carregavam e reproduziam informações que o Kokichi escreveu, então é como se fosse um testamento que ele deixou 🥲